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Paper - Opiniao Pública e a Glamourização de Ted Bundy

1 INTRODUÇÃO

A obsessão para falar de serial killers não vem de hoje. Recentemente, o canal de streaming Netflix, produziu um documentário e um filme biográfico sobre um dos mais famosos, Theodore Robert Bundy, ou como era conhecido, Ted Bundy. 

Ted ficou conhecido como um dos maiores dos Estados Unidos. Cometeu cerca de 36 assassinatos, mas quem o via de fora, achava difícil acreditar que o rapaz teria cometido tantos crimes. Bundy tinha carisma e o dom da retórica a seu favor, e durante os processos nos tribunais, ele fazia daquilo um verdadeiro espetáculo para a audiência que tanto almejava. Inúmeras cartas de mulheres completamente apaixonadas foram recebidas por Ted, entrevistas de garotas que provavelmente seriam suas vítimas falando com sorriso no rosto de que ele não parecia ser alguém que cometeria crimes tão brutais. E finalmente, quando foi morto, a comemoração da comunidade em saber que agora estariam seguros de do assassino em série. 

Neste trabalho, vamos estudar e entender porquê as pessoas são tão obcecadas pelo assassino e como a opinião pública afetou seu julgamento.


2 CONHECENDO TED 

Theodore Robert Bundy foi criado pelos avós. Sua mãe, Eleanor Louise Cowell, era apresentada como uma de suas irmãs. Ted descobriu o fato depois de algum tempo e sempre comentava que o fato não o afetava, mas, se contradizendo como habitualmente fazia, afirmou ter raiva de mulheres e essa se tornava a substituição da raiva que sentia por sua mãe, já que é possível perceber a semelhança de suas vítimas com sua mãe quando jovem.

Ted Bundy era um jovem muito inteligente, e apesar de não ter sido nada difícil entrar numa faculdade, ele não ficou mais do que três anos, desistindo por não ter paciência  para assistir às aulas, e por não querer fazer trabalhos em grupo. Fora da faculdade, ele namorou algumas garotas, trabalhou em diversos empregos e, como a maioria dos psicopatas, se envolveu com a política, sendo um promissor militante do Partido Republicano, obviamente.

O namoro mais sério que Ted teve foi com Stephanie Brooks, mas ela terminou com ele considerando-o imaturo. O término o deixou arrasado e ele viajou pelo Colorado, Arkansas e Filadélfia até voltar ao estado de Washington em 1969 e ingressar novamente na Universidade de Washington. Se formou em Direito como um dos melhores alunos de 1972. Nesta época, Ted teve um namoro conturbado com uma funcionária da faculdade, Elizabeth Kloepfer. Em uma viagem à Califórnia, ele reencontrou Stephanie e reatou o namoro com ela, mas sem terminar com Elizabeth. Uma não sabia da existência da outra e ele namorou as duas até um dia desistir de Stephanie e nunca mais entrar em contato com ela.

Elizabeth foi uma peça importante para o julgamento de Ted. Quem os conhecia, via o relacionamento como algo fugaz e sem importância. Ted e Elizabeth ficaram seis anos juntos até que ela começou a perceber as semelhanças entre o namorado e o suspeito do retrato falado que a polícia havia divulgado. Quando Ted descobriu que a namorada, agora já ex, estaria ajudando a polícia, admitiu nunca esquecer a traição. 
Elizabeth publicou o livro “The Phantom Prince: My Life With Ted Bundy”, dois anos depois de o serial killer ser condenado à morte por cadeira elétrica, em 1981. Kloepfer relatou como Ted sabotou a chaminé da casa que partilhavam e trancou todas as portas com o objetivo de sufocar Elizabeth com o excesso de fumo.
Ninguém sabe exatamente quando Ted Bundy começou a matar. Em alguns depoimentos, ele confessou ter tirado a vida de duas pessoas em 1969 em Atlantic City, aos 22 anos. Depois ele negou essas mortes. Muitas evidências ligam ele ao assassinato de Ann Marie Burr de apenas oito anos em 1961 quando ele tinha apenas 14 anos de idade. Esse seria de fato seu primeiro crime fatal, e depois disso, a média de estudantes desaparecidas e mortas era a de uma por mês.

2.1  MODUS OPERANDI DE TED

Modus operandi é uma expressão em latim que significa “modo de operação”, na tradução literal para a língua portuguesa. Esta expressão determina a maneira que uma pessoa específica utiliza para trabalhar ou agir, ou seja, as suas rotinas e os seus processos de realização.
O modus operandi de um serial killer é estabelecido observando que arma foi utilizada no crime, o tipo de vítima selecionada, o local utilizado, a forma de agir passo a passo. É o comportamento prático. O que o criminoso faz de necessário para cometer o crime e é dinâmico, podendo mudar e melhorar conforme sua experiência.

Observa-se que o modus operandi e as características de Ted Bundy, corresponde ao estuprador em série do tipo Raiva Retaliatória, e também possui algumas características do Raiva Excitamento, como: plano metódico e utilização de instrumentos para controle da vítima.

As vítimas de Ted Bundy eram todas extremamente parecidas. Garotas brancas de vinte e poucos anos, cabelos escuros e repartidos no meio. Todas usavam calça longa quando foram assassinadas. Como citado anteriormente, as garotas assassinadas tinham semblante parecido com o da mãe biológica de Ted. 

2.3 A OPINIÃO PÚBLICA SOBRE O ASSASSINO

O termo “serial killer” começou a ser usado em 1970 por Robert K. Ressler, agente do FBI. Até então, as pessoas que viam os crimes de Ted Bundy acontecendo não sabiam como se referir ao criminoso na época.

Por suas vítimas serem meninas de no máximo 25 anos, pais e colegas de campus, sentiam muita empatia pelas mortes. Fotos, protestos e passeatas eram feitas frequentemente, pedindo que a mídia local e a polícia desse atenção para achar o assassino de tantas meninas.

Bundy adorava o fato que conseguia tornar o tribunal o palco perfeito para aparecer e receber a atenção que tanto gostava. A maior parte do público que assistia as audiências, eram garotas de idade parecida com as vítimas, não temendo os crimes relatados. Muitas apaixonadas e comentando que era difícil acreditar que o rapaz simpático e inteligente, seria capaz de cometer tantas atrocidades. 

A mídia local fazia questão de fotografar e cobrir cada audiência de Ted, fazendo com que ele acreditasse cada dia mais, que era mais inteligente que o juiz e saíria inocentado de toda situação. Durante uma dessas audiência, Theodore pediu Carole Ann Bonne, uma ex namorada e admiradora de Ted, em casamento.

Quando foi morto, ironicamente uma mulher acionou a cadeira elétrica, os cidadãos da Califórnia ficaram esperando, em frente ao presídio, a notícia de que Ted estava finalmente morto. Gravações da época mostram que as pessoas estavam com cartazes irônicos, fazendo lanches e quando receberam o “ok” dos policiais presentes no presídio, soltaram fogos de artifício e comentaram que finalmente se sentiam seguros novamente.

3. CONCLUSÃO

A mídia amava Ted, mulheres que possivelmente seriam suas vítimas, amavam Ted. Bundy tinha o talento de manipular a opinião pública de forma simples apenas com carisma, estudo e boa aparência física. 

Até hoje, 2019, a mídia adora “romantizar” serial killers. Abordando toda a história de forma até mais leve, utilizando adjetivos como charmoso, bonito, fazendo com que a maioria das pessoas se percam em qual é a real essência dos personagens. 

Recentemente, o serviço de streaming Netflix, estreou a série “You”, traduzida literalmente para “Você”, onde o ator Penn Badgley interpreta um stalker psicopata que fica obcecado pela garota que conhece numa livraria. Os dois vivem um “romance” e quando ela decide não ficar mais com ele, ele surta e resolve sequestrá-la. Penn Badgley, que interpreta o psicopata, teve que lidar com vários comentários de fãs pedindo que ele as sequestrassem.

Esse é mais um exemplo de que o quanto mais “bem apessoado” o criminoso for, mais difícil se torna para as pessoas perceberem que existe maldade na situação, e enquanto a mídia continuar a romantizar a situação, mais difícil vai se tornar perceber que essas pessoas estão entre nós. Ted Bundy demorou anos para ser pego devido à sua boa postura, quem sabe quantos outros estão livres porque esse assunto se tornou glamouroso.


Referências 



https://www.youtube.com/watch?v=UClvCcrb9Eo acessado em 10/11/19, às 15h20

https://www.significados.com.br/modus-operandi/ acessado em 10/11/19, às 16h25

CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro: Darskide, 2014.

Paper - Opiniao Pública e a Glamourização de Ted Bundy
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